Dr. Eduardo Martins foi o entrevistado desta quinta-feira (9) do programa PNotícias, da Piatã FM
O médico infectologista e coordenador do centro de Pesquisa e Inovação da Fundação José Silveira, Dr. Eduardo Martins concedeu entrevista ao programa PNotícias, da Piatã FM, na manhã desta quinta-feira (9). Entrevistado pelo apresentador Dinho Junior, Dr. Eduardo falou sobre as polêmicas envolvendo o uso da hidroxicloroquina e afirmou que a divulgação do medicamento feita pelo presidente Jair Bolsonaro “causa uma tensão entre política e ciência”.
O infectologista explicou que o grande número de vítimas da Covid-19 influencia na percepção da população acerca da doença e aumenta a ansiedade pela busca de um medicamento eficaz: “Pra gente entender isso, a gente precisa entender que essa doença que gera uma mortalidade grande, gera uma ansiedade grande, tanto na população, quanto nos profissionais de saúde. Nós temos que fazer alguma coisa”, disse. Centenas de ensaios clínicos e pesquisas estão sendo desenvolvidos no mundo ao longo desses meses, para definir se uma medicação é eficaz ou não é eficaz”, afirmou.
Quando à eficácia do medicamento, Dr. Eduardo Martins ressaltou que é preciso ter cuidado e aproveitou para desmentir algumas crenças sobre o uso da substância. “A gente não tem ainda uma resposta final. Nós sabemos que o medicamento aumenta a mortalidade e não deve ser utilizado em pessoas que têm profilaxia ou baixa incidência, isso é mito”, detalhou.
“Ainda temos vários estudos em andamento, tanto da hidroxicloroquina, quanto da cloroquina que, inclusive, um estudo já demonstrou que em altas dosagens é muito ruim para a população. Então não existe, nesse momento, evidências de que a cloroquina seja eficaz, tanto pra profilaxia, quanto para o tratamento da doença”, ressaltou.
O médico disse ainda que “não receitaria para o meu paciente por conta dessa falta de evidência que tem dessa eficácia da cloroquina” e explicou que a divulgação do medicamento feita pelo presidente Jair Bolsonaro é prejudicial ao campo científico, que busca a melhor solução contra a Covid-19: “Isso prejudica e cria uma tensão entre a ciência, que é o conhecimento da informação da eficácia da medicação e o tratamento político”.
“Nós temos inúmeros pacientes sem tratamento nenhum e curando. Já a cloroquina, se tomar, ou não tomar, a pessoa fica boa também. Mais ou menos 80% das pessoas resolvem e melhoram sem sintoma nenhum. É muita gente que não precisa de terapia nenhuma. É um analgésico se está sentindo dor de cabeça, um descanso. Mas 80% não vai desenvolver um sintoma mais sério. Quando desenvolver um sintoma mais sério, tem que procurar o sistema de saúde, que às vezes você precisa de um suporte de oxigênio e isso aí tem que ser tratado pelo médico”, disse.
O médico também falou sobre a reação do organismo humano infectado pelo vírus responsável pela maior pandemia do século: “O corpo tem uma resposta protetora, elimina o vírus contra a doença em 80%. Ele é eficaz em 80%. O que a gente não sabe ainda é se essa resposta é exacerbada em alguns casos, o que pode causar piora do caso”, relatou. “Tem que descansar, ficar em casa, respeitar o isolamento quando você tem um diagnóstico pra não transmitir a outras pessoas”, recomendou.
Sobre a higermectina, que não está mais sendo encontrada nas farmácias, o infectologista destacou que, apesar de ser recomendada para algumas situações, a medicação não deve ser utilizada contra o coronavírus.
“Quem precisa, não acha. Ivermectina é uma medicação que já tem mais de 15 anos no mercado. É excelente a medicação, tem um baixo número de efeitos colaterais. É uma medicação muito interessante, que se verificou que in vitro, ela matava o vírus do coronavírus. Mas a sua dosagem in vitro é eficaz com uma dose 30 vezes maior do que a gente suporta. O ser humano não permite essa dosagem. Não existe nenhum estudo hoje que mostre uma eficácia da ivermectina”, contou.
“Existe um estudo de baixa confiabilidade mostrando que pode ter um efeito em pacientes graves, mas profilaxia não existe ainda. Existem estudos, mas eles estão ainda em andamento”, explicou. “Essa medicação tem efeitos colaterais, então pode fazer mal. A gente não sabe quais efeitos colaterais o uso exacerbado da ivermectina pode desenvolver”, falou.