Secretário de Comunicação do município confirmou que os macacões estavam sendo lavados ao invés de descartados
O presidente do Instituto de Defesa da Dignidade Humana (IDDH), Edklercio de Mendonça Gomes, denunciou ao PNotícias o que seria um atentado do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) do município de Feira de Santana contra a saúde dos funcionários. De acordo com a denúncia, os trabalhadores do Samu estariam tendo que lavar e fazer reuso macacões, um dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) que devem ser utilizados nos atendimentos durante a pandemia do coronavírus (Covid-19).
Edklercio aponta que os funcionários estariam sendo orientados a fazer a lavagem dos macacões deixando-os de molho em baldes com água e sabão e em substância de hipoclorito. Os macacões ainda seriam lavados na garagem das ambulâncias e estendidos em varal até serem utilizados novamente.
“O Samu está obrigando os funcionários a reprocessarem esses materiais descartáveis, como o próprio macacão descartável de proteção à Covid-19, na garagem das ambulâncias com um cabo de vassoura e baldes com água e sabão e hipoclorito”, conta.
“Não só trazendo risco pra vida desses profissionais mas trazendo risco pra vida das pessoas que são atendidas pelo Samu, não só de Covid. Qualquer tipo de ocorrência atendida pelo Samu está exposta por conta de um processo mal feito e obrigado pela coordenação geral e a responsável técnica que é a coordenadora de enfermagem e o coordenador administrativo, todos enfermeiros daquela instituição”, continuou.
A reportagem teve ainda acesso a relatos de funcionários do Samu que não quiseram se identificar:
“A roupa eu tinha que trazer pra casa pra fazer desinfecção em casa, mas por causa da minha mãe e do meu filho eu não trago pra casa, eu lavo lá mesmo. Nem me deram um balde, eu que peguei um balde, fiz desinfecção no balde e estendi lá mesmo na corda”, conta uma profissional em um dos relatos.
“Eu tô trabalhando morrendo de medo por causa da minha mãe e do meu filho, correndo risco naquele Samu. Já me deu vontade até de pedir pra sair, mas estou tão endividada que só Deus sabe”, desabafou. “Ali todo mundo está suspeito, só Deus na causa”, continuou.
Ao PNotícias, o presidente contou ainda que chegou a registrar a denúncia através de e-mail enviado à Prefeitura Municipal de Feira de Santana, à Procuradoria-Geral do Município (PGM) e às Secretarias de Saúde e Administração da cidade. Apesar da tentativa, segundo ele, só recebeu o retorno da PGM que o orientou protocolar a denúncia fisicamente, enquanto o gabinete estaria fechado.
Edklercio chegou a pedir um posicionamento direto do prefeito de Feira de Santana, Colbert Martins, (MDB) e solicitou que ele olhasse para a denúncia também enquanto profissional da área saúde:
“Colbert Martins, o senhor está prefeito e pode até não olhar pro Samu como gestor público porque o senhor está prefeito, mas médico o senhor é de função e deve ter feito um juramento pela vida das pessoas. A vida dos profissionais de saúde também devem ser salvas. Doutor Colbert Martins, olhe para o Samu, veja os absurdos que estão acontecendo e salve a vida não só daqueles profissionais que são do grupo de risco e que estão sendo obrigados a trabalhar desta forma, mas também das pessoas que são atendidas por aquela instituição e que estão sendo expostas por conta de um processo errado de desinfecção de material descartável”, pontuou.
Apesar das solicitações, a única resposta da gestão municipal teria sido uma nota de esclarecimento divulgada no último dia 25 no site da prefeitura, onde a coordenadora do Samu de Feira de Santana, Maíza Macedo, respondeu pela instituição.
“A lavagem e desinfecção de macacões, de acordo com a coordenadora no início da pandemia, o SAMU providenciava o descarte do equipamento, em atendimento a casos confirmados de Covid-19. Logo decidiu-se pelo descarte, também, após a assistência a suspeitos de portar o vírus”, justifica a nota.
Ainda segundo Edklercio, a coordenadora do Samu não admitiu que os macacões continuam sendo lavados e que a prefeitura teria divulgado uma nota baseada em “informações mentirosas”, enganando a população. O denunciante conta ainda que, a mando da coordenadora, um funcionário teria se dirigido à garagem das ambulâncias para retirar os macacões estendidos no varal é assim, destruir as provas de que estes continuavam sendo lavados. Além disso, ele teria solicitado as imagens das câmeras de segurança do local, que até o momento não teriam sido divulgadas pela administração.
A reportagem entrou em contato com o secretário de Comunicação de Feira de Santana, Valdomiro Silva, que quando questionado se os macacões estariam sendo lavados, enviou como resposta a mesma nota publicada no site da prefeitura com os esclarecimentos da coordenadora:
“Esclarecimentos da coordenadora do SAMU em Feira de Santana, Maíza Macedo, sobre as denúncias:
Não procedem as denúncias. Convidamos os veículos de comunicação a visitar o SAMU e testemunhar os nossos procedimentos. Os órgãos fiscalizadores também se sintam convidados.
Quanto a denúncia sobre lavagem e desinfecção de macacões, de acordo com a coordenadora, no início da pandemia, o SAMU providenciava o descarte de todas as roupas de proteção em atendimento a casos confirmados de Covid-19. Logo decidiu-se pelo descarte do material, também, em relação a casos suspeitos, após assistência.
A lavagem e desinfecção de material reutilizável é feita nos mesmos moldes do que ocorre em outras unidades pelo Estado, respeitando-se os protocolos do Ministério da Saude.
O SAMU Feira de Santana providenciou, inclusive, roupa privativa para as equipes, vestida sob o macacão. Máscaras N95, toucas, luvas de procedimentos, óculos de proteção individual e protetor facial também distribuidos a todo o pessoal”.
De acordo com a nota, os macacões incialmente eram descartados apenas em casos confirmados da Covid-19, mas logo em seguida, foi tomada a decisão de descarte também para casos suspeitos. A fim de sanar possíveis dúvidas, o PNotícias reforçou os questionamentos e perguntou ao secretário se os macacões de fato chegaram a ser lavados, exceto nos casos confirmados de Covid-19, como aponta a nota. “Exatamente”, respondeu Valdomiro.
Questionado a respeito da denúncia de que alguém, a mando da coordenadora, teria recolhido os macacões da garagem das ambulâncias, escondendo as provas, o secretário não emitiu resposta.
O PNotícias também entrou em contato com a coordenadora do Samu, Maíza Macedo, e com a coordenadora de Enfermagem do município, Maíra Andrade, que não responderam aos questionamentos a respeito das denúncias do presidente do IDDH envolvendo o nome delas.
A reportagem teve ainda acesso a um documento do Centro de Material e Esterilização (CME) que seria uma espécie de relatório de atividades do Samu, onde há registros de que os macacões teriam sido lavados, inclusive no mês de maio, cerca de dois meses após o primeiro caso de coronavírus ser identificado no município. Confira:
Questionado a respeito desse documento, o secretário de Comunicação não confirmou a sua veracidade ou falsidade e garantiu que irá apurar e averiguar o caso com os órgãos competentes.
Confira imagens e vídeo, enviados pelo presidente, do que seriam registros dos macacões sendo lavados, conforme aponta a denúncia: