Eduardo Café é chefe do departamento de cirurgia do Hospital Santa Izabel
O médico Eduardo Café, urologista com certificação em cirurgia robótica, professor da Escola Bahiana de Medicina, chefe do departamento de cirurgia e coordenador do grupo de tumores e videolaparoscopia do serviço de urologia do Hospital Santa Izabel foi pioneiro na realização de cirurgias robóticas na Bahia. O equipamento utilizado é o robô Da Vinci, que realiza cirurgias para o câncer de próstata com precisão e confiabilidade. Em entrevista ao PNotícias, o médico falou sobre a inovação no Hospital Santa Izabel, explicou sobre o procedimento e fez um paralelo com a inovação tecnológica na medicina no mundo. Confira abaixo:
PNotícias: equipamentos como o Da Vinci já são bastante utilizados em procedimentos cirúrgicos de alta performance e precisão nos grandes centros mundiais de saúde. Como é para o senhor encabeçar esse movimento aqui na Bahia?
Eduardo Café: a Bahia precisava acompanhar esse desenvolvimento que vem ocorrendo há mais de uma década em todo o mundo. Nos últimos anos vimos muitos pacientes saindo de Salvador para realizar uma cirurgia robótica em outro estado. Isso precisava mudar. Sabemos que é um investimento muito alto e fico feliz com o resultado, e por ter contribuído durante todo este longo processo de implantação do primeiro programa de cirurgia robótica na Bahia.
PNotícias: qual a importância disso para a Bahia?
EC: quando lembramos que nos EUA mais de 90% das cirurgias para câncer de próstata são feitas com auxílio do mesmo robô que nós temos aqui, e que até então tínhamos que levar os nossos pacientes para serem operados longe da sua família, fica clara essa importância.
PNotícias: no Brasil, quais outros estados possuem esse equipamento?
EC: aproximadamente 2/3 estão instalados no sudeste. Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste são apenas 5 robôs, incluindo o nosso.
PNotícias: além de procedimentos relacionados à urologia, o robô realiza procedimentos em outras áreas da medicina?
EC: as cirurgias para o câncer de próstata correspondem a quase metade de todas as cirurgias robóticas feitas em todo o mundo, mas diversas especialidades tem desenvolvido programas de sucesso e que tem crescido muito e continuarão crescendo cada vez mais. No Hospital Santa Izabel, temos um time de cirurgia robótica com especialistas em ginecologia, coloproctologia, cirurgia torácica, cirurgia geral, oncológica, cirurgia cardiovascular e de cabeça e pescoço, que vem treinando e adquirindo certificação para desenvolver cada uma destas especialidades. É um caminho sem volta!
PNotícias: como funciona o robô durante a cirurgia?
EC: o robô é totalmente controlado pelo cirurgião treinado, através de um console posicionado ao lado do paciente. Através desse console o cirurgião tem uma visão de ultra-definição, em 3D e controla os 4 braços robóticos responsáveis pelos movimentos precisos das pinças cirúrgicas, da câmera, da energia utilizada para controle dos vasos sanguíneos. Além disso, temos outros 2 ou 3 assistentes auxiliando durante toda a cirurgia.
PNotícias: quais os requisitos para o uso do robô na cirurgia de próstata?
EC: o Hospital Santa Izabel é uma referência no tratamento do câncer na Bahia, e desde 2001 eu estou à frente do Ambulatório de Tumores Urológicos, responsável pelo tratamento de muitos pacientes com câncer. São mais de 200 pacientes operados por ano, a maioria de câncer de próstata. A cirurgia robótica é uma nova forma de continuar tratando estes pacientes. A analogia com o piloto de avião ajuda a entender. Imagine um piloto experiente, com muitas horas de voo e que recebe um avião mais moderno para trabalhar. Ele não precisa aprender aviação, mas certamente precisará treinar e aprender a manusear com Segurança estes novos equipamentos. O meu treinamento em cirurgia robótica começou há mais de anos e a minha certificação em cirurgia robótica foi feita em 2016. Enquanto não tínhamos o robô em Salvador, continuamos operando de maneira convencional, ou, levando para São Paulo aqueles que se dispunham a sair daqui.
PNotícias: e quais os benefícios dessa modalidade de cirurgia?
EC: todos os benefícios de uma cirurgia minimamente invasiva, como menor tempo de internação, menos tempo com sonda urinária, menor necessidade de analgésicos, menor tempo de convalescença. No caso da cirurgia da próstata, ocorre menor perda sanguínea, e, possivelmente, uma maior preservação da potência sexual e do controle urinário. O cirurgião também se beneficia diretamente, na medida que opera sentado, com uma maior ergonomia, reduzindo o desgaste físico.
PNotícias: o robô é 100% seguro ou existe alguma possibilidade de problema técnico?
EC: são mais de 4,5 milhões de pacientes operados em todo o mundo, com a mesma plataforma. Mantendo a analogia feita com o piloto, eu diria que é mais seguro do que viajar de avião.
PNotícias: qual treinamento é necessário para manusear um equipamento desse?
EC: são várias etapas: 1ª etapa: realizar uma certificação com mais de 80% de acerto após cerca de 40 horas de aula teórica. 2ª etapa: mais 40 horas de treinamento supervisionado em simulador; 3ª etapa: acompanhamento de cirurgias em um centro de cirurgia robótica; 4ª etapa: realizar uma avaliação prática em um centro qualificado e certificado, que emitirá o certificado de habilitação para operar no console e finalmente, realizar pelo menos 9 cirurgias sob a supervisão de um cirurgião robótico certificado.
PNotícias: toda a equipe médica tem que fazer treinamento?
EC: sem dúvida. Existe treinamento teórico e prático para cada um dos médicos assistentes, enfermeiros e técnicos de enfermagem que atuam na sala da robótica e na central de esterilização de materiais, instrumentadores. Todos são treinados.