Artigo do Padre Alfredo Dorea vai ao ar toda quarta-feira no Portal PNotícias
Ainda somos nós que continuamos decidindo pelas infâncias, sem ouvir as suas vozes. A criança tem voz potente, aguda e grave, quando precisa, a voz da inocência, do personagem que criou, sobretudo, a voz da verdade que deve ser ouvida e levada em consideração para a formulação das ações que se promove para elas.
O progresso de Salvador, frente às festas populares, é inegável. A beleza, a riqueza cultural, a variedade de opções carnavalescas, nutre a pluralidade e evidencia o berço cultural que é Salvador, terra abençoada por todos os Santos, de encantos e Axé. A gestão da cultura, do entretenimento, da valorização da cultura Afro tem ganhado destaque pelas incessantes e importantes ações dos poderes públicos, que tem, brilhantemente, atuado em prol da execução delas.
No entanto, a maioria das festividades culturais e de lazer em Salvador ainda aparece tímida, no rol de ações para um público que é só ludicidade. A ludicidade é inata à criança. É dela que parte, inclusive, o empoderamento da infância, do ser criança, que, indiscutivelmente, se bem valorizada, repercutirá numa formação humana diferenciada e isto é inquestionável.
Dentro dos seus limites, entregar trabalho pronto para a criança está “fora de moda”, criança é vida, latência, descoberta e produção. No máximo uma sugestão, mas a construção deve ser em conjunto, partindo de um princípio básico e não oneroso: ouvir a criança. Ouvir a infância, é, sobretudo, respeitá-la. É poder mostrar a ela, de forma prática, como pode ser a construção das linhas de ação da vida, sem perder o encantamento do sonho e da imaginação. Sem deixar que o ponto mágico da infância não seja vivenciado em sua inteireza. É conceituar o ser criança, cada uma delas, como possibilidade, dentro da possibilidade que ela traz em si. Sem amarras e sem manipulações, deixando a verdade latente e pujante dela transcorrer pela construção da sua essência criança.
Para isso, é preciso alimentá-la com investimentos concretos, que possibilitem a sua expressão máxima, garantindo a formação do ser humano que é, de forma integral, a partir da sua potencialidade, do seu campo imaginativo, ou seja, do poder da arte. Mais um carnaval passou e outras festas estão por vir. As crianças ainda continuam conduzidas, integradas ou não, de forma equivocada ou não na folia do adulto.
Quando as crianças terão os seus espaços de apreciação e construção coletiva, que permitam o pulsar da arte, da alegria, da constância e do aflorar da imaginação, que já é intrínseco à sua fase da vida? Investir na cultura e na arte para a criança é permitir a dignidade à vida deste pequeno ser humano, que na arte se torna grande e que muitas vezes ao praticá-la causa em nós, adultos, sensações indescritíveis, reflexivas e reveladoras de como ainda precisamos dar passos largos nos investimentos para as infâncias. Muito se tem feito, mas muito está para ser feito. E estamos aqui.
* Padre Alfredo Dorea (@padre.alfredo) é um anglicano amante da vida, da solidariedade e da justiça social. Com os movimentos populares, busca superar todo preconceito e discriminação. Gosta de escrever e se comunicar.
** Mateus Russo é arte-Educador, licenciado. ME Comunicação, Cultura, Política e Sociedade. Superintendente Executivo da Hora da Criança
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